segunda-feira, julho 14, 2008

Com problema de caixa, empresas imobiliárias são mais punidas na Bolsa

O drama das empresas imobiliárias no mercado de capitais já era anunciado. O Brasil tornou-se no ano passado o único lugar do mundo com mais de 20 companhias do setor listadas na Bolsa. O sintoma do exagero: 16 ações estão valendo menos do que na data de estréia. "A percepção dos investidores é que quase todas têm problemas de caixa. Pela pressão em mostrar lançamentos e venda, compraram terrenos muito caros. E grandes também, que demoram mais para vender", afirma o diretor-executivo da área imobiliária do Morgan Stanley, o espanhol Alfonso Munk. "Muitas empresas não estavam preparadas e foram à Bolsa para aproveitar o bom momento.
Para Munk, os planos de lançamentos feitos no ano passado para 2008 e 2009 foram inviáveis. "Neste ano estamos vendo mais permuta. As empresas não vão conseguir cumprir o VGV (valor geral de vendas), não têm dinheiro para isso."
Analistas, banqueiros e executivos de empresas do setor não acreditam em situações extremas, como quebra de companhias. "É difícil repetir a história da Encol. As empresas que estão na Bolsa têm um patrimônio muito maior. E os juros estão mais baixos", acredita o sócio de um fundo de investimento. Um caminho possível pode ser adiar novos projetos e reduzir o crescimento. "Eu, como investidor, não olho VGV, mas sim, margem. Prefiro reduzir o crescimento e entregar com margem", diz Munk, do Morgan Stanley, que tem participação na Abyara.
O consultor da Arsenal Investimentos, Gustavo Junqueira, não aprova redução de crescimento. "É uma solução medíocre. Empresa que está na Bolsa tem de crescer. Ela não pode deixar os investidores nessa situação", acredita. "Uma solução pode ser fusão ou a venda para um grupo maior." A compra da Agra pela Cyrela, em junho, foi o início desse processo, considerado irreversível.
A InPar precisa de R$ 400 milhões para compra de terrenos nos próximos 18 meses. "O mercado de ações está fechado para novas captações. Também está mais caro tomar crédito porque os juros subiram. Mas o que mais preocupa o setor é o arrocho monetário, que pode restringir a demanda por imóveis", diz o diretor de relações com investidores da InPar, Gustavo Felizzola.
(Fonte: O Estado de São Paulo, Patrícia Cançado)