quinta-feira, junho 05, 2008

Poupança acirra disputa com DI

Alta dos juros favorece fundos, mas cobrança da taxa de administração pode levar vantagem para a poupança

As recentes elevações da taxa básica de juros e, mais que isso, a expectativa de que se mantenha em alta, por decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), para conter o avanço da inflação, trazem de volta o debate em torno da competitividade da caderneta de poupança, em rentabilidade, diante de seu concorrente direto, os fundos DI.
Para começar, a caderneta leva vantagem sobre as demais aplicações de renda fixa porque não recolhe Imposto de Renda (IR). A cada 30 dias, o investidor recebe na conta o crédito do rendimento correspondente à Taxa Referencial (TR) mais 0,5% de juro ao mês. A TR reflete o juro médio de uma cesta de Certificados de Depósito Bancário (CDBs).
Nas aplicações de renda fixa, como os fundos DI, ou de renda fixa, o investidor que fizer retiradas recolhe o IR calculado sobre o rendimento nominal por alíquotas decrescentes, de acordo com o tempo de permanência do dinheiro na aplicação. A alíquota mais elevada é de 22,5%, para aplicação de até seis meses, e recua para 15% depois de dois anos, com alíquotas intermediárias de 20% (para um ano de aplicação) e 17,5% (18 meses).
Cálculos de especialistas do mercado financeiro apontam que, beneficiada pela isenção de IR, em geral a caderneta leva vantagem em rentabilidade sobre as demais aplicações de renda fixa, como os fundos DI, quando os juros que remuneram essas aplicações estiverem em torno ou abaixo do nível de 11% ao ano.
Além do desconto de IR, os fundos cobram a taxa de administração, referente ao serviço prestado pelo gestor da carteira, que pode levar fatia maior ou menor da rentabilidade do investidor, dependendo do nível da taxa cobrada. Pelas contas do administrador de investimentos Fábio Colombo, em investimento pelo prazo de seis meses, por exemplo, a caderneta será mais rentável na comparação com o fundo DI ou de renda fixa se a taxa de administração cobrada nesses produtos for acima de 2,5% ao ano.
"Entre 2% e 2,5% de taxa há equilíbrio de rentabilidade entre caderneta e fundos, não valendo a pena mudar de um fundo DI para a caderneta ou vice-versa", avalia Colombo. Para prazos acima de dois anos, em que a alíquota de IR é de 15%, o fundo levará vantagem sobre a caderneta se a taxa de administração for inferior a 3%; acima desse nível de taxa, a caderneta será mais rentável. De todo modo, não é indicada a migração de dinheiro já aplicado; a escolha é interessante apenas para o dinheiro novo disponível para investimento.
Outro ponto a ser considerado, na comparação da atratividade entre as duas aplicações, é a retomada de alta da taxa básica de juros. Após derrubar a taxa Selic até o nível de 11,25% ao ano, o BC retomou a alta que, de acordo com analistas de mercado, poderá conduzir o juro básico a algo próximo de 14% no fim do ano.
A taxa Selic, que corresponde ao juro das Letras Financeiras do Tesouro (LFTs), títulos pós-fixados da dívida pública, guarda correlação com os juros DI, cobrados nas transações interbancárias e referência para a remuneração dos fundos DI.
O analista de investimentos Eduardo Santalúcia comenta que o rendimento da caderneta e o dos fundos mantiveram relativo equilíbrio quando os juros estavam em queda. "Com a elevação dos juros, no entanto, os fundos DI passaram a render mais que a poupança, a menos que a taxa de administração seja muito alta." Santalúcia diz que, hoje, o fundo DI oferece mais proteção ao dinheiro novo, aquele disponível para aplicação, que um fundo de renda fixa, por exemplo. "Mas a caderneta é sempre indicada para o pequeno investidor."
(Fonte: O Estado de São Paulo, Tom Morooka)